A dor é na cabeça, mas a causa pode estar na boca, ou melhor, na mandíbula. Especialistas estimam que 50% das cefaleias estejam ligadas a distúrbios da ATM (articulação temporomandibular).
Esses problemas podem causar dores de cabeça, às vezes confundidas com enxaqueca. E o caminho até o diagnóstico pode ser longo.
Segundo o dentista Paulo Conti, do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP de Bauru, poucas pessoas associam a dor de cabeça à mandíbula.
Mesmo assim, um terço da população tem pelo menos um dos sintomas do distúrbio, como dor, estalo ou dificuldade para abrir a boca.
"Muitas vezes nem os médicos fazem essa associação. O paciente chega ao consultório do neurologista com dor e ele não imagina que o problema possa estar na ATM."
Ele preside a SBDOF (Sociedade Brasileira de Disfunções Temporomandibulares e Dor Orofacial), criada por ele há alguns meses para dar orientações sobre a ATM.
De acordo com o dentista Rodrigo Bueno, consultor científico da ABO (Associação Brasileira de Odontologia), a diferença entre a dor de cabeça da ATM e a da enxaqueca está na localização.
"A dor causada pelos distúrbios da ATM está mais na região lateral. E é tão aguda que a pessoa fica em dúvida se o incômodo é na cabeça, no ouvido ou nos dois."
Foi graças à dor de ouvido que a professora Marisa Rogati, 56, de São Paulo, descobriu, há dois anos, a causa de sua dor de cabeça, com a qual conviveu por quase 20 anos.
O otorrino disse que poderia ser algo relacionado à ATM, e a ortodontista confirmou a suspeita. "Nunca imaginei que a dor pudesse ter algo a ver com os dentes."
Desde os 35 anos, ela acordava com fortes dores de cabeça. "Achava que era o travesseiro. Saía um modelo novo e eu comprava." Como tratamento, usou aparelho ortodôntico por cerca de um ano.
DOSE DUPLA
Segundo a ortodontista Leda Losso, os problemas de ATM podem vir junto com a enxaqueca. "Mas solucionar os distúrbios da ATM já faz com que a pessoa lide melhor com a enxaqueca."
É o caso de Julieta Anazetti, 58, que tem enxaqueca desde criança, assim como outros membros da família.
"Depois dos 38 anos, as crises ficaram mais fortes e aconteciam de madrugada."
Julieta travava a boca ao ficar tensa, o que desencadeou os distúrbios da ATM. Hoje, usa uma placa no céu da boca que a impede de pressionar os dentes. O tratamento acabou com as dores na ATM e melhorou a enxaqueca.
"Em 20 anos fiz muitas tomografias e ressonâncias magnéticas e tomei remédios. Fui a vários médicos, que nunca suspeitaram da ATM."
Para quem convive com fortes dores de cabeça, o ideal, segundo Losso, é consultar também um ortodontista.
"Só faltou mencionar a atuação da fisioterapia, tão importante no quadro álgico e na educação e manutenção da melhora. Nos próximos post vamos falar um pouco mais sobre ATM, disfunções e tratamento fisioterapêutico."
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