O Brasil é um país em envelhecimento. A idade média do brasileiro, que era de 20 anos em 1980, terá duplicado em 2030. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), serão mais de 40 milhões de idosos - pessoas acima de 60 anos - ou 19% da população. No campo da saúde pública, o Brasil ainda está em fase gestacional das mudanças que serão necessárias para se adequar à nova realidade. A concepção do Hospital Amigo do Idoso é um dos projetos pioneiros da área e carrega um conceito bastante simples: adequar os hospitais às necessidades básicas do idoso. O projeto foi um dos pontos de destaque do Congresso Internacional ‘A Saúde do Idoso’, organizado pelo Hospital do Servidor Estadual, em São Paulo, de 7 a 9 de julho.
A criação e implementação do Hospital Amigo do Idoso (HAI) deve se espelhar no já existente Hospital Amigo da Criança, uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Criança (Unicef) de 1990 que preza pela qualidade do atendimento das crianças e incentiva a amamentação. O programa chegou ao Brasil por uma iniciativa do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), que administra o Hospital do Servidor Estadual, com o objetivo de responder a uma necessidade interna da instituição. "Hoje, 60% das nossas internações são de pessoas acima dos 60 anos", diz Latif Abrão Junior, superintendente do Iamspe.
De acordo com Alexandre Kalache, consultor internacional e ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde durante 14 anos, criar o Hospital não é simplesmente transformá-lo em um centro geriátrico especializado. “É uma preparação que vai do espaço físico à abordagem médica”, diz. Em termos práticos isso significa adequar o local com rampas e iluminação, mas também treinar da recepcionista ao médico, para que eles saibam como atender o idoso. “No envelhecimento não há uma patologia, mas sim várias doenças que existem ao mesmo tempo. O médico não pode tratar uma hipertensão sem ter um olhar global da saúde daquele paciente, por exemplo”, diz Kalache.
No Brasil, o modelo padrão está sendo criado em dois lugares: no próprio Hospital do Servidor Estadual e no Hospital São Mateus, localizado na periferia da capital. Como o país segue o caminho inverso das grandes potências e envelhece antes de enriquecer, é inviável que venha de fora um padrão a ser copiado. “Se isso acontecer, apenas os mais ricos terão suporte. O país precisa criar seu próprio modelo para que ele seja viável ao maior número de pessoas possível”, diz Kalache. A expectativa é que dentro de, no máximo, três anos o Servidor Estadual já tenha pensado nessa maneira de se fazer um HAI no Brasil, esteja preparado fisicamente e possa ainda transferir conhecimento aos demais hospitais do país. “Temos apenas 15 anos para nos preparar. É um tempo curto, mas é possível”, diz Kalache.
Cuidados paliativos — O cuidado paliativo é uma prática que procura oferecer mais conforto ao paciente com doença limitadora ou que esteja em estado terminal. Segundo Henrique Parsons, membro da Academia Nacional de Cuidados Paliativos e ex-membro do Departamento de Cuidados Paliativos do MD Anderson, nos Estados Unidos, no Brasil ainda não há programas de formação de profissionais habilitados nessa prática. “Os profissionais que trabalham com isso foram se especializar no exterior. Mas é importante que a prática vire rotina e esteja na pauta dos cursos de medicina”, diz.
No Brasil, ainda há poucos lugares de referência em cuidados paliativos, mas destacam-se, segundo Parsons, o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Hospital do Servidor Estadual, o Hospital do Câncer de Barretos e o Instituto da Criança da Universidade de São Paulo. O Conselho Federal de Medicina (CFM) estuda a possibilidade de criar uma cadeira de especialização em cuidados paliativos. Qualquer médico, após o término da residência médica, poderia se especializar nessa área de atuação.
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