A dificuldade para diagnosticar a fibromialgia, uma doença crônica que causa dor muscular generalizada e fadiga, foi o foco de uma pesquisa divulgada em maio, quando ocorreu o dia mundial da doença. Segundo o estudo, realizado pelo Instituto Harris Interactive a pedido da Pfizer, a enfermidade leva de quatro a sete anos para ser diagnosticada no Brasil. E concorre para isso o desconhecimento de pacientes e também de médicos.
A pesquisa ouviu 904 pessoas, das quais 604 médicos e 300 pacientes, no Brasil, no México e na Venezuela, tendo apurado que 63% dos pacientes brasileiros não sabiam como descrever os sintomas e que cerca de 70% dos que receberam o diagnóstico nunca tinham ouvido falar da enfermidade. Entre os médicos consultados, 84% acreditavam que muitos de seus colegas não conhecem bem a doença.
Segundo o reumatologista Eduardo Paiva, membro da Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), “é fato” que existem médicos que se sentem inseguros no momento de diagnosticar a fibromialgia, uma vez que há cuidados específicos nesse processo de investigação. “Não se trata de uma enfermidade que deve ser pesquisada com base em exames laboratoriais, mas, sim, em perguntas dos mais variados tipos ao paciente sobre sua vida cotidiana e suas queixas, em uma consulta longa”, explica Paiva. Sabe-se, por exemplo, que a doença causa fadiga e dificuldade na prática de tarefas do dia a dia, além de prejudicar o sono e produzir alto nível de ansiedade. Tudo isso, portanto, tem de ser questionado em detalhes.
Paiva conta que a necessidade de buscar esse diagnóstico de uma forma inquisitiva levou um colega seu a afirmar que a fibromialgia fez dos reumatologistas “médicos melhores”, por exigir, mais que imagens advindas de exames, uma conversa cuidadosa com o paciente – ele lembra, inclusive, que mais de 80% dos diagnósticos realizados na área médica foram conseguidos apenas com base em conversas com o doente.
O presidente da Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles da SBR, o reumatologista Roberto Heymann, concorda com Paiva: “De fato, a busca por diagnosticar uma eventual fibromialgia melhora a relação médico-paciente, já que não se baseia em exames, que, aliás, são chamados de ‘complementares’ não sem razão, pois devem ser pedidos sempre após uma ou mais consultas, caso o médico avalie que isso seja necessário”, defende.
Heymann acrescenta que o diagnóstico de fibromialgia não é um processo de exclusão, em que é preciso fazer exames para descartar outras doenças e, por consequência, deduzir que se trata mesmo da tal síndrome dolorosa. “Não é assim que funciona”, ressalta o reumatologista, até porque, frisa ele, o paciente pode estar sofrendo dessa doença e também de alguma outra.
DOR CRÔNICA
Considerando que a fibromialgia é um mal crônico, convém saber que a dor crônica é diferente da aguda: “A dor aguda age em áreas que chamamos de defesa, de fuga, no cérebro, o que faz com que o paciente com esse sintoma não fique parado, tenha muito suor e agitação”, esclarece Paiva. Inclui-se nessa categoria a cólica de rim. Já a dor crônica envolve uma resposta e um comportamento diferentes, continua o médico. A pessoa permanece mais quieta.
Existem critérios padronizados para ajudar o médico no diagnóstico da fibromialgia, surgidos em 1990 e considerados válidos até hoje, embora estejam passando por revisão: um deles é a queixa de dor generalizada por mais de três meses e o outro é a presença de 11 pontos dolorosos dos 18 apalpados durante o exame clínico. Para Heymann, esses critérios têm um tanto de subjetividade, já que podem ser igualmente positivos para outras várias doenças. “Além disso, não são apropriados para pacientes do sexo masculino”, adiciona ele, explicando que as mulheres têm um limiar de dor – a força mínima suficiente para causar sensação dolorosa – menor que a do homem. E a pressão ao apalpar, estabelecida por esses critérios, não é suficiente para que o paciente masculino sinta dor.
Entretanto, tanto Heymann quanto Paiva sustentam que esses critérios formais não são absolutos durante uma consulta e servem apenas como base. Isso significa que é possível diagnosticar a fibromialgia mesmo que eles não sejam totalmente atendidos. Por outro lado, o presidente da Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles da SBR acredita que a dificuldade nesse diagnóstico sempre irá existir. O que se busca, segundo ele, são formas de facilitar cada vez mais esse processo.
Como orientação geral, vale ressaltar que essa doença não tem cura, mas, de acordo com Paiva, seus efeitos podem ser atenuados com medicação e, principalmente, com exercícios físicos. “O paciente pode até ficar sem remédio, mas não sem atividade física”, enfatiza o reumatologista.
Do site: http://www.reumatologia.com.br/
Sociedade Brasileira de Reumatologia
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