terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Hidrocefalia em adultos

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Diagnóstico precoce e tratamento correto podem curar e devolver qualidade de vida ao paciente e seus familiares

Hidrocefalia em adultos

Deficiência progressiva da memória, instabilidade para caminhar e dificuldade para reter a urina. Às vezes tidos como problemas “normais” em idosos, essas manifestações devem ser encaradas como alerta para a busca de ajuda médica: a presença dos três sintomas juntos pode indicar a hidrocefalia, doença altamente limitante provocada pelo aumento de líquido cefalorraquidiano (liquor) nas cavidades cerebrais chamadas ventrículos.

No Brasil há aproximadamente 11 mil novos casos em adultos por ano, atingindo igualmente homens e mulheres, principalmente a partir dos 65 anos. Mas, considerando que a doença é subdiagnosticada, o número é provavelmente maior.

A hidrocefalia ocorre quando o liquor, que circula pelo cérebro atuando como um sistema de proteção, não consegue ser reabsorvido. Normalmente, há cerca de 250 ml desse líquido circulando e sendo reabsorvido pelo cérebro de um indivíduo adulto, quantidade que se refaz em média três vezes por dia. Diferentemente da hidrocefalia infantil, em que ocorre a expansão da cabeça porque ainda não há consolidação óssea da caixa craniana, no adulto o liquor não reabsorvido acumula-se nos ventrículos, comprimindo estruturas cerebrais importantes e causando os três sintomas.

A hidrocefalia pode ocorrer pelo excesso de produção de liquor, causado por fatores como traumas cranianos, acidente vascular cerebral (AVC), tumores cerebrais, cirurgias cerebrais prévias e hemorragia das meninges. Também pode ser provacada quando há oclusão dos aquedutos (canais por onde circula o liquor), seja por defeito congênito ou por tumores - são casos mais raros e podem acometer pessoas de todas as idades.

A grande maioria das ocorrências de hidrocefalia em adultos idosos, porém, está associada à incapacidade do cérebro de reabsorver adequadamente o liquor, por razões ainda desconhecidas. É denominada Hidrocefalia de Pressão Normal Idiopática (sem causa definida), porque apesar do aumento dos ventrículos, a pressão do liquor é normal.

A hidrocefalia sem causa definida é também a de diagnóstico mais complexo, pois a tríade de sintomas característicos da doença (comprometimento de memória e/ou funções cognitivas, marcha irregular e incontinência urinária) está presente em outras doenças do idoso. "Mais de 90% dos pacientes que apresentam a tríade de sintomas têm hidrocefalia", diz o dr. Reynaldo André Brandt, neurocirurgião do Einstein e presidente da mesa diretora da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

“Trata-se de uma doença extremamente limitante. O paciente não consegue se locomover e fica preso ao leito, com incontinência que favorece infecções urinárias de repetição", observa o dr. Ivan Hideyo Okamoto, neurologista do Einstein.

Diagnóstico

O diagnóstico de hidrocefalia é feito pela história clínica e por exames de imagem que mostram os ventrículos aumentados. Quando há suspeita de HPNI, é realizado o teste terapêutico denominado Tap-Test. Inicialmente, o paciente passa por avaliação da memória cognitiva e por testes de marcha. No outro dia é submetido à punção de cerca de 30 ml de liquor retirado da coluna vertebral, o que reduz temporariamente a retenção nos ventrículos.

Os testes são repetidos após a punção. Se o paciente mostrar melhora nas funções que estavam afetadas, a HPNI fica caracterizada. "O Tap-Test é importante para a confirmação diagnóstica, pois aumenta a segurança na indicação de um procedimento cirúrgico para pacientes de mais idade", explica o dr. Okamoto.

O Einstein foi a instituição pioneira na aplicação do Tap-Test de forma sistematizada e sem a necessidade de internação. O paciente passa pela avaliação neuropsicológica e pelo teste de marcha e, no dia seguinte, retorna para ser submetido à punção do liquor. Alguns minutos depois é reavaliado para verificar se a resposta à punção foi positiva. "Fazer a reavaliação logo após a punção melhora significativamente a precisão do exame, já que o liquor pode voltar a se acumular nos ventrículos em cerca de duas horas", destaca o dr. Brandt.

Cirurgia eficaz e segura

A cirurgia de derivação ventrículo-peritoneal (DVP) é a indicação preferencial para o tratamento da hidrocefalia. Trata-se de um procedimento adotado já há muitas décadas com índices de eficácia e segurança superiores a 80%. Consiste na colocação de um cateter no ventrículo cerebral, ligado a uma válvula e a outro cateter, implantado na altura do pescoço e que chega até a cavidade peritoneal, na região do abdômen.

A válvula tem a função de regular o fluxo, abrindo toda vez em que há aumento dos ventrículos e drenando o excesso de liquor - levado através do cateter até a cavidade peritoneal. Os sintomas desaparecem por completo logo após o procedimento e os índices de recidiva são extremamente baixos.

O avanço da tecnologia possibilitou a criação de válvulas reguláveis que, caso seja necessário, podem ser ajustadas sem procedimentos invasivos. Antes delas qualquer problema nas válvulas exigia que fossem substituídas com a realização de nova cirurgia.

A frequente confusão dos sintomas da hidrocefalia com os de doenças como Alzheimer retarda e, muitas vezes, impede a detecção da doença. Mas, com diagnóstico precoce e tratamento correto, a hidrocefalia pode ser completamente curada, resgatando a qualidade de vida do paciente e de sua família.

Fonte: Dr. Ivan Okamoto, neurologista - CRM:62356 e Dr. Reynaldo André Brandt, neurocirurgião - CRM: 13760​

Fonte: Einstein.com.br

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