Com a ajuda de exoesqueleto, a paraplégica Claire Lomas conclui a Maratona de Londres em 16 dias
LONDRES - No dia 22 de abril, 36 mil corredores partiram de Greenwich para percorrer a Maratona de Londres. Duas horas, quatro minutos e 44 segundos depois, o queniano Wilson Quipsang cruzava a faixa de chegada da prova em St James’s Park. No fim daquele dia, uma outra competidora, a britânica Claire Lomas, comemorava os três primeiros quilômetros completados. Ela repetiu essa marca — que Quipsang percorreu a cada sete minutos — pelas duas semanas seguintes até atravessar a fita vermelha estendida especialmente para ela no último 8 de maio, às 12h50m, acompanhada por centenas de torcedores.
Quipsang levou a medalha de ouro, Claire Lomas saiu dessa prova sem sequer ter seu nome entre os que a completaram oficialmente. Mas marca na História um feito inédito: aos 32 anos, paraplégica há cinco, ela se tornou a primeira pessoa a completar uma maratona com a ajuda de um exoesqueleto biônico.
— Pela primeira vez em cinco anos quero de verdade ficar sentada! — disse Claire, ao se apoiar em sua cadeira de rodas, para um breve descanso depois da prova. — É simplesmente inacreditável.
Em 2007, Claire teve fraturas na coluna — no pescoço e na altura do tórax —, além de um pulmão perfurado quando montava seu cavalo e bateu contra uma árvore. Desde o momento em que soube que precisaria de uma cadeira de rodas para se locomover, Claire começou a pesquisar cada vez mais a fundo os meios para recuperar os movimentos. Foi navegando pela internet que descobriu o aparelho ReWalk, desenvolvido pelo israelense Amit Goffer. Com ajuda de amigos e parentes, conseguiu levantar as 43 mil libras (pouco mais de R$ 137 mil) necessárias para comprar a engenhoca robótica que a fez ficar de pé e dar os primeiros passos desde o acidente. Três meses antes da maratona, Claire ensaiava uma caminhada na companhia de sua filha Maisie, de um ano.
— No início eu estava tão vacilante quanto Maisie — brinca a atleta, com um sorriso que parece ser inabalável e com a filha de pé a seu lado.
Com seu feito, Claire conseguiu levantar mais de 86 mil libras (R$ 276.500,00) para uma instituição que financia pesquisas médicas para tratamentos de paralisia.
— Quando estava no hospital me recuperando acompanhei muitas histórias semelhantes ou piores que a minha. Sou muito grata às pessoas pelo apoio que me deram. Muitos não podem ter essa ajuda e precisamos encontrar a cura para lesões que vemos todos os dias acontecer — afirmou Claire, logo após receber da filha do patrocinador oficial da maratona um troféu, no lugar da medalha.
As medalhas que ela exibiu no peito foram doadas por alguns corredores que completaram a maratona duas semanas antes e acompanharam a atleta e todo seu esforço. Uma delas foi entregue pela inglesa Jacqui Rose:
— A medalha de uma maratona simboliza tudo o que você passou para chegar ao fim da prova. E Claire é o próprio espírito disso tudo.
Enquanto falava com a imprensa, Claire era observada pelo marido Dan, uma companhia constante ao longo de todo o percurso. Seu papel era o de apoio, sempre atrás da atleta, para ajudá-la em caso de desequilíbrio, principalmente nas subidas e descidas, já que o exoesqueleto — que cobre as laterais das pernas e ainda é acompanhado de uma mochila para os sensores — pesa 25 quilos. Perguntado sobre qual seria a próxima aventura de Claire, ele faz graça:
— Do jeito que ela é determinada, o próximo desafio será a travessia do Canal da Mancha. Mas nessa eu não vou, preciso descansar!
Uma fila de cem nomes espera pelo lançamento dos próximos aparelhos no Reino Unido. São pessoas que vão investir alto para poder andar com a ajuda da engrenagem e de seus sensores eletrônicos e também de um par de muletas. O distribuidor em Londres, Dave Hawkins, estima que os primeiros aparelhos cheguem ao mercado em dois meses.
O feito dessa mãe, designer de joias e maratonista nas horas vagas foi celebrado até pelo primeiro-ministro David Cameron e sua mulher, Samantha. O registro da carta dos dois a Claire está estampado com orgulho em seu Twitter, onde ela também dá o recado: “Nunca desista!”
http://oglobo.globo.com/ciencia/paraplegica-conclui-maratona-de-londres-em-16-dias-4910479
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