segunda-feira, 16 de julho de 2012

Meditação ajuda a lidar com a dor



Segundo um estudo recém divulgado pela Universidade de Manchester, no Reino Unido, pessoas que praticam meditação com regularidade tendem a suportar melhor a dor, pois seus cérebros são capazes de antecipar a sensação desconfortável a que serão submetidos.

“A meditação está ficando mais popular no tratamento de dores crônicas, como aquela causada pela artrite”, disse Christopher Brown, que conduziu o trabalho, ao site da instituição.

Para muitos profissionais da área de saúde essa pesquisa – publicada pela revista especializada Pain – reforça exatamente aquilo que observam frequentemente em seus consultórios.

“Muitas vezes os pacientes entram em um ciclo vicioso, pois as dores crônicas levam à contração muscular que, por sua vez, piora a percepção dolorosa. Com a meditação esse ciclo é quebrado, pois eles aprendem a olhar aspectos mais positivos em vez de focar a atenção na dor e na doença”, informa a anestesiologista Fabíola Peixoto Minson, diretora da SBED (Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor) e coordenadora dos centros de tratamento de dor dos Hospitais Albert Einstein e São Luiz, em São Paulo (SP).
Pois é, mas a história nem sempre foi assim: até pouco tempo atrás a meditação era vista com muita desconfiança pela classe médica. As coisas só começaram a mudar nos últimos anos, quando ficou claro que a dor tem um componente afetivo e, por isso, tentar tratá-la apenas com analgésicos nem sempre dá certo.

“O preconceito contra a meditação está menor. Até porque, na prática, já se sabe que os doentes que meditam evoluem melhor”, avalia Edson Amâncio, neurocirurgião do Centro de Dor do Hospital Nove de Julho, na capital paulista.

Mecanismos de ação

Segundo Elisa Harumi Kosaza, bióloga e pesquisadora do departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os benefícios proporcionados pela meditação à saúde podem ser explicados a partir de basicamente dois aspectos: fisiológico e psicológico.

“O primeiro tem a ver com a liberação de neurotransmissores, como a endorfina, que ajudam a reduzir a sensação de desconforto. Já o segundo está relacionado à forma como a pessoa encara a dor, passando da rejeição a uma postura de compreensão e acolhimento”.

Considerando que pessoas inquietas e preocupadas tendem a exacerbar a percepção dolorosa, outro ponto que merece ser destacado é justamente o efeito da meditação na redução da ansiedade. “Calmos, os pacientes colaboram mais com o tratamento indicado”, observa Fabíola, diretora da SBED.

Vida com dor

Para Stephen Little, um dos pioneiros na aplicação das práticas meditativas na área da saúde no Brasil e instrutor na clínica Anima de Medicina Integrativa e Complementar, em São Paulo (SP), o segredo é o paciente perceber que não precisa tentar controlar ou fugir da dor, e sim conviver com essa sensação de forma gentil e criativa.

“O esforço habitual e inconsciente de se livrar da dor é o que mantém as pessoas presas à experiência desagradável da qual desejam escapar. Em outras palavras: a tentativa de acabar com o problema é o problema!”, resume.

Entrar em contato com o próprio corpo permite, portanto, que uma pessoa se conheça melhor e obtenha recursos internos para vencer a dor instalada. Dessa maneira, é possível não só aumentar como incentivar a participação do paciente e de seu organismo no processo de cura, deixando-o mais preparado para receber medicações e passar por determinados procedimentos – como uma quimioterapia ou cirurgia.

Faz bem para quem?

Quando realizada de forma apropriada, com prazer e regularidade, a meditação pode ajudar pessoas que apresentam qualquer tipo de quadro, como estresse, dor crônica nas costas, artrite, fibromialgia, fadiga crônica, dor pós-operatória, câncer, distúrbio nervoso, esclerose múltipla, mal de Parkinson e por aí vai. De acordo com Little, a técnica só tem uma contraindicação: situações de depressão.

“O método é indicado para esses casos, mas não quando o paciente está no meio de uma crise, pois pode ficar em contato com pensamentos que só geram mais tristeza”, ensina.

Para quem até gosta da ideia, mas acha que não tem paciência para realizar uma atividade como essa, um lembrete: meditar não é só permanecer sentado e de olhos fechados por um tempão. Além de existir um método de trabalho, “há várias modalidades de meditação. Para pessoas mais agitadas, por exemplo, é possível indicar práticas que incluem movimento”, avisa a pesquisadora Elisa Harumi Kosaza, da Unifesp.

Coadjuvante de peso

É preciso ressaltar que a meditação funciona como um complemento a tratamentos tradicionais. Por isso, o ideal é que o médico ajude a conduzir o pacientes por esses caminhos diferenciados. “Podemos indicar meditação associada a medicamentos, bloqueios dos nervos que levam a dor ao cérebro, psicoterapia e fisioterapia”, exemplifica Fabíola Minson.

Esse é justamente o caso da empresária Luciana Panzetti Moliterno, 39 anos, de São Paulo (SP). Depois de ser diagnosticada com enxaqueca crônica – quadro caracterizado por dores fortíssimas na cabeça, face, músculos das costas e pescoço – ela foi submetida a todos os procedimentos mencionados pela diretora da SBED, incluindo a meditação.

“No começo senti dificuldade para praticá-la, pois a dor atrapalhava demais e nunca encontrava uma postura cômoda. Mas continuei fazendo e percebi que, além de me relaxar, as aulas tiram o foco da dor e permitem que eu sinta mais o meu corpo”.

“Era muito jovem e estava bastante assustada. Aí meus médicos me encaminharam para um grupo de apoio que ensinava técnicas meditativas. Elas foram superimportantes para relaxar, fortalecer a mente, aumentar a imunidade, minimizar as dores e entrar em profundo contato com meu corpo”, lembra.

Encantada com o poder que a mente exerce sobre o corpo, a empresária incorporou algumas técnicas em sua rotina. Hoje, pratica com mais afinco por causa das dores crônicas.

“Estou voltando a viver e posso dizer que a meditação me ajudou, mais uma vez, a superar os obstáculos, me trazendo para o momento atual, acalmando meu corpo e minha mente e, é claro, proporcionando mais qualidade de vida, pois é isso que realmente conta”, comemora.

http://saude.ig.com.br/bemestar/

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